“A principal finalidade de se estudarem as escrituras budistas é desenvolver boas qualidades, como o amor e a compaixão, e eliminar as emoções negativas, como os venenos mentais de apego, ódio e ignorância, pela compreensão e aplicação dos antídotos apropriados.”
Geshe Jampa Gyatso
“Ao estudo sobrevém a compreensão; mas é preciso colocá-lo em uso. Portanto, é vital pôr um máximo do que se aprendeu em prática.”
O célebre sistema de ensinamentos conhecido como Os Estágios do Caminho (Lam-Rim) representa uma síntese do caminho completo para a iluminação. Apresentados de forma clara e concisa, esses ensinamentos são fáceis de entender e de se aplicar durante a meditação. As instruções começam com as práticas preliminares, e, em seguida, progridem para as práticas essenciais dos “seres dos três escopos”, incluindo-se a devoção correta ao guru, a renúncia, o desejo altruísta pela iluminação, e a visão do Caminho do Meio. Como fundamento e contexto para a prática budista, essa matéria é elemento chave do Programa Básico.
Lama Tsongkhapa, Exposição Média aos Estágios do Caminho (Lam rim dring)
Geshe Jampa Gyatso foi solicitado a explicar os benefícios de se estudar os Estágios do Caminho:
Estudar, qualquer estudo em absoluto, é benéfico. Entretanto, neste caso o benefício é que purificamos os diferentes tipos de emoções aflitivas de nossa mente. Além disso, obtemos sabedoria e mais atenção, e talvez também introspecção. Dessa forma nossa mente torna-se mais estável.
Há várias matérias no Programa Básico. A primeira é a Exposição Média aos Estágios do Caminho da Iluminação (Lam-rim dring) de Lama Tsongkhapa. No começo deste texto há uma explicação de como confiar no mestre, e de como, ao fazer isso, é possível obter a iluminação, ou a budeidade, para beneficiar os seres sencientes. Por meio disso, viremos a compreender que neste exato momento nós temos um precioso renascimento humano, e lutar por torná-lo significativo e benéfico tanto temporária quanto finalmente. Temporariamente, nesta vida, a mente estará mais relaxada. Em seguida, também na próxima vida será possível obter um renascimento humano superior.
Buda Shakyamuni, em primeiro lugar, deu o ensinamento das quatro nobres verdades – a verdade do sofrimento, a verdade da origem do sofrimento, a verdade da cessação e a verdade do caminho. Nós estamos sofrendo e, de fato, muitas pessoas sofrem. Por que sofremos? Porque criamos a causa, ações. Por que criamos ações? Porque temos emoções aflitivas como apego, ódio e ignorância. Em razão desses três venenos mentais, criamos diferentes ações, o resultado das quais experimentaremos na próxima vida e até mesmo nesta vida. Portanto, precisamos eliminar a causa – ações e aflições contaminadas. Para fazer isso é necessário cultivar o caminho, ou seja, os três treinamentos da moralidade, concentração e sabedoria. Dessa forma, de maneira progressiva, nós atingiremos a verdade do caminho. De posse desse antídoto, podemos abandonar as causas do sofrimento, as emoções aflitivas e, em seguida, chegar ao nirvana ou ao estado liberado. Ao mesmo tempo em que isso é bom para a pessoa, não é suficiente porque as nossas mães seres sencientes ainda vagueiam pelo samsara. Para essa finalidade é necessário compreender o caminho Mahayana.
No começo, é necessário reconhecer nossas mães seres sencientes, depois pensar em suas bondades e, em seguida, em como retribuir à bondade delas. Depois, é necessário reconhecer o amor, o amor de afeição ou a mente da bondade amorosa, a atitude de desejar que todos os seres sencientes tenham a felicidade e as causas da felicidade. Para gerar isso, é necessário desenvolver grande compaixão, a atitude de desejar que todos os seres sencientes sejam livres do sofrimento e das causas do sofrimento. Essas duas mentes, amor e compaixão, produzem o pensamento extraordinário de cuidar de todos os seres sencientes por você mesmo. Trata-se do desejo de que eles sejam livres do sofrimento e das causas do sofrimento e o desejo de estabelecê-los no estado de felicidade.
Então, pense: “Embora eu tenha prometido fazer isso, não posso realmente fazer isso. Quem pode?” Alguém que tenha alcançado a iluminação ou a budeidade é capaz de ajudar ou beneficiar todos os seres sencientes. Entendendo isso, gera-se a bodhichitta, ou o desejo de atingir a budeidade para o benefício de todos os seres sencientes. Com essa atitude, a pessoa se esforça para praticar as seis perfeições e os quatro meios de reunir alunos – as atividades da bodhisattva. Dessa forma podemos ajudar a infinitos seres sencientes.
Portanto, por esse motivo é necessário entrar no veículo final resultante do tantra ou mantra, o caminho resultante. é necessário estudar o vajrayana para obter esse resultado. No entanto, é necessário, primeiramente, preparar o treinamento de nossa mente no caminho comum, depois precisamos nos treinar no caminho do meio, em seguida no grande caminho, do bodhisattva ou veículo da perfeição. Somente depois disso poderemos entrar no caminho incomum, a prática do vajrayana.
Há quatro classes diferentes de tantra: kriya, charya, yoga e mahanuttarayoga tantra. Para entrar no caminho do tantra é necessário, primeiramente, receber a iniciação ou poder. Com respeito à última classe, a mahanuttarayoga tantra, há quatro iniciações: a iniciação do vaso, a iniciação secreta, a iniciação da sabedoria e a iniciação da palavra. As quatro iniciações darão origem, no futuro, aos quatro corpos de buda – os dois dharmakayas ou corpos de verdade, e os dois rupakayas ou corpos da forma. Em outras palavras, elas são as causas pelas quais nós poderemos obter esses quatro corpos.
Para obtê-los nós precisamos nos purificar. A iniciação do vaso purifica as ações negativas criadas pelo corpo – matar, roubar e a má conduta sexual. A iniciação secreta purifica as quatro ações não-virtuosas criadas pela fala – mentira, calúnia, intriga e maledicência. A iniciação da sabedoria purifica as não-virtudes da mente – cobiça, malícia e visões errôneas. A quarta iniciação purifica as impressões dessas ações negativas. Assim nós poderemos obter o estado último de felicidade perene.