A concentração deve repousar sobre um objeto. Ela é muito importante, tanto na prática do Dharma como na vida comum. A palavra tibetana para meditação de concentração é zhi.nay; nay significa “residir” ou “permancecer,” e zhi significa “em paz.” Num sentido prático, portanto, zhi.nay significa viver pacificamente sem excesso de atividades, e é frequentemente traduzido como “tranquilo permanecer” ou “calmo permanecer”.
Quando não a examinarmos cuidadosamente, a nossa mente parece bastante calma; mas se realmente olharmos para dentro, vemos que não está nada calma. Nossa mente não é capaz de permanecer em um mesmo objeto por um segundo. Ela se agita como uma bandeira ao vento. Tão logo nos concentramos em uma coisa, uma outra coisa vem perturbar aquela. Mesmo se estivermos morando no alto de uma montanha, ou em um quarto quieto ou caverna, a nossa mente está sempre se movimentando. Se subirmos até o topo de um edifício alto de uma cidade movimentada, podemos olhar para baixo e ver quanto tumulto existe ali, mas quando estamos nos movendo dentro da multidão, estamos atentos somente a um pouco do alvoroço. Entre os vários fatores mentais, há um movimento constante entre elementos contraditórios; estes fatores sempre conduzem a mente. O movimento de uma bandeira que tremula ao vento não é causado pela própria bandeira, mas pelo vento. A mente é como a bandeira e os fatores mentais são como o vento. Este movimento constante impede que a mente se concentre em um objeto por muito tempo. Dentre nossos fatores mentais, os obscurecimentos são mais fortes do que as boas qualidades. Normalmente não tentamos controlá-las, e mesmo quando o fazemos, é muito difícil porque, por muito tempo, temos tido o hábito de sempre seguí-las. Concentração ou o calmo permanecer acontece quando os nossos fatores mentais são purificados e assim a nossa mente é capaz de permanecer focada pacificamente em um objeto.
Se praticarmos a meditação do calmo permanecer, podemos usar uma imagem de Buda como objeto de concentração. O ponto importante é mantermos a atenção focada nele, seja nitidamente ou não. A nitidez eventualmente virá naturalmente. No início, a concentração é muito difícil; a mente sempre se vira de um lado para o outro. Quando persistimos na prática, porém, descobriremos que podemos manter nossa mente no objeto por um ou dois minutos; depois, por três ou quatro minutos, e assim por diante. Na medida em que o meditador continua a praticar, o seu corpo e mente experimentam um prazer especial. Este sentimento marca a conquista da meta final do calmo permanecer. Embora na nona fase do calmo permanecer nos sintamos muito felizes e calmos este não é o verdadeiro fim da meditação. Concentração firme no objeto ainda não é a realização completa.
Agora o meditador consegue combinar a concentração com a investigação da verdadeira natureza do objeto de meditação. Após a prática contínua e simultânea de ambos os tipos de meditação, um prazer especial surge da visão de dentro do objeto. “Ver o objeto” envolve perceber se um objeto é sofrimento, se é permanente ou mutável, e procurar pela verdade mais elevada sobre a verdadeira natureza do objeto que possa ser encontrada. Em tibetano, o nome desta meditação com insight é lhag.thong. Lhag significa mais, ou mais elevado, e thong entender ou perceber. Através deste tipo de meditação a mente obtém uma maior compreensão do objeto do que conseguiria através da simples concentração; quando esta prática for aperfeiçoada, a mente pode se voltar para qualquer coisa.