Secularismo e Respeito pelos Outros – Shiwa Lha – Centro de Estudos do Budismo Tibetano

Secularismo e Respeito pelos Outros

Agora, sobre ética laica. Eu conhecia o ex-vice-primeiro-ministro indiano, Advani, muito bem. Em uma ocasião ele mencionou que uma equipe de televisão canadense o entrevistou e perguntou qual era a base para a prática bem-sucedida da democracia na Índia. Ele respondeu que, por milhares de anos na Índia, a tradição foi de sempre respeitar os outros, apesar de argumentos e visões diferentes. Ele me contou que por volta de 3.000 anos atrás, o Charvaka, ou visão filosófica “niilista” se desenvolveu na Índia. Os representantes de outras visões filosóficas indianas os criticaram e condenaram seu ponto de vista, mas ainda se referiam aos representantes do Charvaka como “rishi”, que significa sábio. Esse é um indício de que, apesar dos desentendimentos ou discussões acaloradas, ainda havia respeito. Significa que nós também devemos respeitar os céticos.

Ontem eu disse que alguns dos meus amigos, alguns cristãos e alguns muçulmanos, têm um pouco de reserva com a palavra “secularismo”. Eu acho que é porque, durante a Revolução Francesa ou Revolução Bolchevique, houve uma tendência a ser contra a religião. Mas eu quero fazer uma clara distinção entre religião e instituições religiosas, que são duas coisas diferentes. Como qualquer pessoa sensata pode ser contra a religião? Religião significa amor e compaixão, e ninguém pode criticar essas coisas. As instituições religiosas são, porém, algo diferente. Durante as Revoluções Francesa e Bolchevique, em ambos os casos as classes dominantes realmente abusavam das massas. Além do mais, a classe dominante também recebia total apoio das instituições religiosas, e então, logicamente, de modo a desenvolver uma determinação contra essa classe dominante, foi incluído ser contra as instituições religiosas também. Portanto, houve alguma forma de tendência a ser contra a religião ou Deus.

Ainda hoje, se houver algum tipo de exploração ocorrendo dentro de instituições religiosas, incluindo a comunidade budista tibetana, nós temos que ser contra isso. Minha experiência própria é de que há dois anos eu terminei com a tradição de 400 anos de que o Dalai Lama automaticamente se torna líder espiritual e temporal dos tibetanos. Eu acabei com ela, voluntariamente, feliz e orgulhoso. Coisas como essas na realidade danificam o verdadeiro valor da religião, ou do Dharma. Assim, nós devemos fazer a distinção entre as instituições religiosas, e as reais práticas e mensagens religiosas.

De acordo com o entendimento indiano de secularismo, nunca há um sentimento de negatividade com relação à religião, mas bastante respeito por todas as religiões, e também respeito por todos os céticos. Eu acho isso muito sábio. Como podemos promover isso? Através da pregação? Não. Então, certamente através da prece? Não. Mas através da educação, sim. Nós recebemos educação sobre higiene física, então por que não receber educação sobre higiene mental ou emocional, simples conhecimentos de como cuidar de uma mente saudável? Não há necessidade de falar sobre Deus ou a próxima vida, ou sobre Buda ou nirvana, mas simplesmente sobre como se tornar uma pessoa feliz com a mente. Uma pessoa feliz gera uma família feliz, que gera uma comunidade feliz. Logo, eu acho que nós precisamos de algumas lições sobre higiene emocional.

Transcrição de um seminário , Friburgo, Suíça, Abril de 2013, levemente editado por Alexander Berzin. Texto retirado deste site.

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