Trabalhando a Raiva – Shiwa Lha – Centro de Estudos do Budismo Tibetano

Trabalhando a Raiva

O que é raiva?

Raiva é um estado mental negativo que perturba a mente, tornando-a infeliz e sem paz. A raiva é muito comum e se manifesta de várias formas, desde uma ligeira irritação até o ódio violento.

Porque a raiva surge?

A raiva surge quando exageramos as qualidades negativas de uma pessoa, objeto ou situação ou quando projetamos qualidades negativas que não estão lá e depois desenvolvemos aversão por eles. Quanto mais forte a raiva, mais a nossa mente se perturba e mais cometemos ações negativas de corpo e fala tentando atingir o objeto de nossa raiva.

A raiz da raiva está na nossa ignorância, que não compreende como nós e os outros existimos. Isto nos faz ter apego a um “eu”, “meu” e “mim” e a desenvolver aversão por qualquer pessoa ou objeto que nos ameaça ou perturba. Temos raiva quando as pessoas fazem o que não queremos e não fazem o que queremos.

O que há de errado com isto?

Os ensinamentos, comparam a raiva ao fogo, que queima tudo: nossas qualidades, nosso pensamento racional inteligente, nosso autocontrole, nossa compaixão, nossos méritos, tudo é queimado. Ferimos a nós mesmos e aos outros. Em poucos momentos podemos destruir relacionamentos longos e aceitar nossos piores inimigos como amigos íntimos. A raiva está por trás de muitos crimes violentos, guerras, conflitos interpessoais. Um momento de raiva pode criar sofrimentos imensos, agora e no futuro.

Como podemos lidar com a raiva? — Antídotos

1) Atenção ou autoconsciência

  • ajuda-nos a estar ciente do que ocorre em nossas mentes para que possamos controlar e lidar com ela de forma mais efetiva. Cessa o nosso descontrole.
  • mantém as nossas mentes calmas e menos suscetíveis de serem perturbadas pelas emoções
  • com a mente alerta as emoções podem realmente se apaziguar.

Com esta atenção consciente será mais fácil ver os efeitos prejudiciais da raiva. A raiva machuca!

2) Refletir sobre os defeitos da raiva

A raiva é auto-prejudicial:

  • Fisicamente—olhe no espelho e veja como sua aparência se altera. A raiva produz substâncias químicas que perturbam a nossa saúde.
  • Mentalmente- causa frustração, confusão, desconcerto. Perdemos a clareza, ficamos tensos e apreensivos.
  • A raiva é prejudicial aos outros: tentamos feri-los mentalmente, fisicamente e verbalmente
  • A raiva é muito destrutiva: é causa de guerras, problemas sociais, etc.
  • Por causa da raiva, podemos agir de forma impetuosa e perder amigos, nosso trabalho, etc. Perdemos o respeito das pessoas.
  • Ter raiva destrói méritos
  • Quando agimos com raiva, criamos carma negativo

3) Cultivar o oposto da raiva, a bondade amorosa

  • A mente não pode ter dois pensamentos ao mesmo tempo, então se nos familiarizamos e preenchemos nossas mentes com a bondade-amorosa, a nossa raiva naturalmente diminui naturalmente.
  • Pense nos benefícios do amor: nos traz paz e felicidade
    Desenvolva um sentido de ver igualdade, preciosidade e bondade nos outros e deseje-lhes a felicidade.

4) Pense no karma

  • Em termos do problema ter surgido devido ao carma passado:
  • O problema que estamos enfrentando agora surgiu como resultado de causas negativas que criamos no passado, então devemos assumir a responsabilidade em vez de culpar o outro.
  • A raiva ou mágoa que experimentamos é também devido ao nosso carma
  • Em termos de como a nossa reação afeta o carma futuro:
  • Se reagirmos com raiva e retaliarmos, isto só criará mais carma negativo e sofrimento para o futuro

5) Pense sobre a impermanência

  • Já que as coisas são impermanentes e vão definitivamente mudar para que ficar tão agitado?
  • A situação vai mudar mas o carma que criamos com a situação vai permanecer
  • Todos vamos morrer e então nosso carma será extremamente importante

6) Pense na vacuidade

  • Quem está ficando com raiva?
  • De que?
  • Qual a natureza da raiva?
  • Olhe para a claridade da mente

7) Procure meios alternativos de ver a situação

  • Examine o que a sua mente está dizendo para ver se pode detectar falhas em seu pensamento, por exemplo:
  • “Ele fez isto deliberadamente para me ferir”–de fato, ele poderia estar ocupado e não percebeu o que estava fazendo, ou poderia estar aborrecido com algum problema pessoal
  • “Ela nunca faz nada direito”–se pensarmos com mais cuidado, provavelmente vamos conseguir lembrar de coisas que ela fez bem
  • “Ele é totalmente mau; não há nada de bom nele”—ninguém é 100% mau, todo mundo tem boas qualidades

8) Seja compassivo—coloque-se no lugar da outra pessoa

  • Afaste-se de seu próprio ponto de vista por uns momentos, e tente ver como a situação é vista pela outra pessoa
  • A mente daquela pessoa pode estar perturbada por causa de problemas pessoais. Então, procure ouvir a pessoa e você poderá descobrir o motivo de seu comportamento
  • Mentalmente separe a pessoa da emoção perturbadora que ele/ela demonstra e veja que o problema está naquela emoção perturbadora, não na pessoa
  • Recorde-se do carma: se ele/ela está fazendo algo negativo, vai experimentar o sofrimento no futuro

9) Verifique as suas expectativas

  • Pergunte-se “O que eu esperava? As minhas expectativas eram realistas?”

10) Eu realmente tenho o direito de culpar os outros?

  • Veja se você consegue se lembrar que já fez algo semelhante à ação ou comportamento do qual você está com raiva de ver em outra pessoa.
  • O Buda disse “Não olhe para os defeitos dos outros, nem para suas omissões e poderes, mas olhe para os seus próprios atos, para o que você fez e deixou de fazer.”

11) A crítica pode ser útil

  • Quando alguém nos faz uma crítica, é bom ouvirmos cuidadosamente sem reagir defensivamente. Pode haver alguma verdade no que ele/ela está dizendo, e podemos tomar isto como um conselho para nos aprimorar. Se o que aquela pessoa está dizendo não for verdade, podemos atribuir isto ao juízo falso dele/dela. Então, em qualquer caso, não há necessidade de se aborrecer e ter raiva

12) Se tudo o mais falhar, congele!

  • Se repentinamente ficar com muita raiva, e não conseguir aplicar um antídoto, faça o melhor que puder para não falar ou agir enquanto estiver com raiva. Afaste-se da situação, esfrie a cabeça, e mais tarde quando tiver tempo, traga a situação à sua mente e aplique um antídoto.

Meditação sobre a Raiva

Pense em uma situação em que tenha sentido raiva.

1) A raiva trouxe alguma solução? Fez você sentir-se mais feliz e em paz? Trouxe felicidade e paz para os outros?

2) Você teria reagido da mesma forma se a sua mente estivesse mais consciente e ajudado a discutir as coisas de uma maneira mais clara e lógica? Eu me comportaria da mesma maneira se a minha mente estivesse mais compassiva?

3) Eu estava sendo realista?

As minhas expectativas eram realistas?
Foi totalmente e cem por cento culpa da outra pessoa?
Aquela pessoa já me beneficiou em alguma outra ocasião?

  • Você consegue se colocar no lugar da outra pessoa e ver como ele/ela vê a situação?
  • É possível que aquela pessoa estivesse perturbada por seus próprios problemas pessoais?
  • Você consegue separar mentalmente a pessoa da emoção perturbadora e colocar a culpa nisto?
  • É possível que você tenha um defeito ou emoção perturbadora semelhante?

4) Existe alguma maneira que você possa olhar para a situação de modo diferente e usar o que aconteceu para aprender mais sobre si mesmo e sua própria mente?

A crítica é útil. Estes comentários se baseiam no curso “Trabalhando com as Emoções” dado no Biblioteca Budista, em Singapore, por Ven Sarah Tenzin Yiwong, em janeiro de 1996, com referência a material de Ven Sangye Khadro e Ven Thubten Chodron.

Disponibilizado pela Ven Sarah Tresher.

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