Em As Seis Perfeições: A Prática dos Bodhisattvas (2020) – disponível apenas em inglês –, Lama Zopa Rinpoche nos conduz ao longo das seis perfeições, um ensinamento chave do budismo Mahayana.
Compartilhamos aqui um trecho do ensinamento de Rinpoche sobre a perfeição da generosidade:
Manter a mente pura — livre de orgulho, avareza e assim por diante — é muito difícil para pessoas comuns como nós. Se pudéssemos simplesmente dar, sem todos esses pensamentos perturbadores obscurecendo a nossa doação, a nossa generosidade seria perfeita e alcançar outro perfeito renascimento humano seria fácil. Mas esta é uma dificuldade para a maioria de nós. É por isso que devemos sempre verificar a nossa motivação e ser diligentes na observação do nosso carma.
Os aldeões de Solu Khumbu, onde nasci, têm um bom costume de protegerem-se e aos outros. Por serem incrivelmente pobres, o roubo é sempre um problema e diversas coisas são levadas: panelas, dinheiro – até batatas. Em muitas aldeias, as pessoas enterram potes com as suas preciosas batatas do lado de fora para mantê-las seguras, mas os ladrões geralmente conseguem adivinhar onde os potes estão enterrados e desenterram-nos. Além disso, é comum que alguns peguem coisas emprestadas e não as devolvam, por mais que o dono reclame e grite.
Nesses casos de roubo, os aldeões muitas vezes vão a um mosteiro e pedem ao lama que faça orações e dedique o mérito das preces ao ladrão, oferecendo-lhes totalmente aquela coisa. Se isso se tornará ou não um ato virtuoso, não depende do lama, mas da mente da vítima. Se a pessoa puder renunciar completamente ao objeto roubado e oferecê-lo ao ladrão com compaixão, então isso será virtuoso. O dono precisa do objeto, mas o ladrão também precisa dele, e assim, ao renunciá-lo e oferecê-lo ao ladrão com compaixão, a dedicação torna-se uma ação virtuosa.
Se alguém nos roubou cem dólares e não conseguimos praticar a dedicação – se não conseguimos assumir a perda e oferecer a vitória a esse ser senciente; se ainda nos apegamos a esses cem dólares, como poderemos aperfeiçoar a prática da generosidade? Mesmo sem considerar o quão gentil aquele ser senciente tem sido, o quão precioso ele é, deveríamos nos alegrar por ele precisar de algo e agora tê-lo. Tal como nós, eles querem a felicidade e não querem o sofrimento – nesse sentido são completamente iguais a nós – então por que não podem ter aqueles cem dólares? Se encontrássemos cem dólares, como ficaríamos felizes. Se encontrássemos mil dólares ou um milhão de dólares, ficaríamos muito surpresos e entusiasmados. Bateríamos palmas de alegria. Então, por que não podemos fazer o mesmo por este ser senciente que ganhou cem dólares?
Extraído do Capítulo 1, As Seis Perfeições: A Prática dos Bodhisattvas, Wisdom Publications, 2020. Tradução para o português de Roberta Martins Hipolito Manne, revisão e edição Paula Takahashi.
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